"...o ator ou a atriz só assim se reconhece quando passa a agir conforme aqueles que já gozam de legitimidade ou posição. A validação pelos pares é pautada nas relações existentes entre os indivíduos daquele grupo, e a arte possui forte essência de atividade coletiva; [...] esta relação fundamenta-se na confiança, admiração e amizade."
GIFFONY, Gyl
"De Quem é a Cena?", 2010
por Mateus Rocha no TJA, 2010 |
Hoje, 6 de julho de 2011, a Cia. Sem faz aniversário. Há exatamente 3 anos estávamos tensos e ansiosos atrás das cortinas do Teatro Sesc Emiliano Queiroz no 5º Festival de Esquetes da Cia. Teatral Acontece (Fecta). Quando as cortinas se abriram naquela noite e os primeiros risos brotaram após alguns minutos, que alívio! Percebemos que as coisas estavam funcionando. Mal imaginávamos que dali surgiria o espetáculo que somos hoje. Mal imaginávamos que nos tornaríamos uma companhia de teatro profissional. O tempo foi nos dando maturidade para entendermos o que é ser artista e encarar profissionalmente essa realidade difícil. Foram muitas barreiras e ainda hoje enfrentamos dificuldades mil, mas sinto que caminhamos num rumo certo. E estamos nos reafirmando com nosso teatro político e didático, descobrindo a cada ensaio as possibilidades que Brecht e o metateatro propõem.
Por Aline Sampaio no CCDragão do Mar, 2009 |
Ainda lembro das risadas da Larissa na primeira vez em que ela leu o texto. Lembro do dia em que convidamos o Clark, sem conhecê-lo bem, para integrar o elenco. Lembro dos primeiros ensaios na Casa de Artes do IFCE, das nossas primeiras contestações quando estávamos nos descobrindo com esse novo teatro que a academia nos proporcionou: “Como assim, não vai ter coxia? Vou trocar de adereço na frente de todo mundo?”... Das apresentações estranhas como aquela numa comunidade do Bairro Castelão e das apresentações excelentes no CCBNB. Sim. Deu certo.
Primeira logo, 2008 |
Ser um Sem Nome hoje não significa uma ausência de identidade, acho que sem querer isso nos deu um caráter mutável que permitiu a evolução da Rapadura de 2008 até hoje. Na última reunião tivemos um encontro com o figurinista Oráculo e percebemos que esse caráter mutante faz parte da companhia e que o figurino é um reflexo disso. É uma mutação que caminha numa direção cada vez mais próxima de um ideal inalcançável.
Acho que a Rapadura, nos seus ideais é isso, a busca destemida por uma utopia. Queremos mudar o mundo e não temos medo de dizer isso, por mais piegas que essa frase seja. Aos poucos estamos reforçando nosso compromisso social através da nossa campanha de arrecadação de livros, que caminha a passos lentos, mas acelera um pouquinho a todo instante.
Por Aline Sampaio no CCBNB, 2010 |
Uma companhia de teatro permite uma troca inexplicável de saberes e, e mesmo quando se torna uma “empresa”, com obrigações financeiras, de divulgação, produção, editais, etc, continua repleta de uma sensibilidade que só mesmo a arte permite.
Conhecemo-nos mais a cada dia, entendemo-nos mais a cada dia. E os conflitos aparecem naturalmente e são essenciais para a consolidação da identidade do grupo, que ainda precisa enxergar que é preciso lutar sem rédeas por um mesmo ideal, TODOS, e que tudo que fizermos ainda é pouco diante do que temos pela frente, não só em relação à campanha e à realidade do analfabetismo no Brasil, mas em relação ao espetáculo como um todo, ao próprio teatro e aos nossos futuros como artistas.
Desenho de Clark Ribeiro, 2009 |
Acredito na arte como a transgressão humana permitida pela sociedade. Somos transgressores autorizados por sermos reconhecidos como artistas, precisamos fazer bom uso dessa transgressão, impondo a teoria quando necessário e jogando-a no lixo por vezes também para dar lugar ao choro, ao diálogo, às brigas, às alegrias, ao futuro. E acredito que podemos mais, que esse aspecto colaborativo também possa se tornar estudo, método, etc. Caminhemos!
Rapadura no Colégio Ágnus, 2008 |
Nesses 3 anos de história, parabenizo meus amigos-autores-atores-diretores-produtores-loucos-chatos-engraçados-e tudo mais, Clark Ribeiro e Larissa Cândido. Parabenizo também Felipe Sales, Andrei Bessa, Amidete Aguiar, Thayla Gomes, Walmick Campos, Aline Sampaio, Elvis Jordan, Natália Régia, Mateus Rocha, Graco Alves e todos aqueles que de alguma forma contribuíram para levarmos a cerca de 4 mil espectadores a Rapadura mutante que nos tornou no que somos hoje: um trio de jovens artistas que, mesmo diante das adversidades que o teatro impõe, acreditam no poder transformador que ele pode proporcionar.
Danilo Castro
Autor e membro da Cia. Sem Nome
Fortaleza, 6 de julho de 2011
Cia.Sem Nome completando 3 anos, o teatro infantil nas mãos de jovens cearenses, verdadeiros talentos. Parabéns Danilo Castro, vcs vão longe.
ResponderExcluirQueridas pessoas,parabéns pelos 3 anos do lindo trabalho que voces estão fazendo.
ResponderExcluirFico muito feliz de ter contribuído um pouco com vocês. E estarei aqui sempre que precisarem :)
Danilo como sempre arrasando nos seus textos...quer me fazer chorar né? rsrs
ResponderExcluirEnfim...é maravilhoso poder fazer parte dessa companhia e poder ver o quanto nós crescemos, quando li o texto da 'Rapadura' me encantei de imediato.O que era uma esquete, se transformou num espetáculo lindo,sempre trazendo algo de novo e muuuito gostoso de se fazer! Parabéns para nós da Sem Nome! O céu é limite!=]
Parabéns! Desejo merda sempre!
ResponderExcluirParabéns Dandan e a todos vocês que vêm trazendo a arte e cultura aos nossos jovens através do teatro.
ResponderExcluirHá aquelas experiências do sentir intenso ou da ludicidade que o nosso racional não alcança nomear. Desejo a vocês, Sem Nome, que a relação entre os integrantes e com seus públicos seja tão forte quanto inexplicável, mas que também compreenda as diferenças e o reconhecimento como necessários a experiência em grupo. Fico instigado com a preocupação na esfera social que o Danilo apresenta no texto, e tenho pensado que a cada dia nos falta mais esta referência, ou melhor esta preocupação. Muito axé, muita busca e uma ruma de inquietações.
ResponderExcluirE eu só ouço falar bem da Rapadura, e ainda não a vi.
Vivas aos 3 anos, e bons desejos para que continuem a tocar o barco!