Por Danilo Castro
31/08/2011
Chega de falar do passado condenando o presente. A conjuntura é outra. Não podemos querer que nossas crianças sejam as mesmas que fomos um dia. Cada um vive no seu tempo e deve ser analisado e entendido dentro do seu recorte temporal, por isso não adianta negar a inserção das novas tecnologias nos sistemas de educação, isso faz parte da vida cotidiana e dos processos de mudança que vivemos intermitentemente. São novos rumos que estamos trilhando, mas é preciso cuidado na hora de mergulhar de vez nesse novo mundo.
Um famoso colégio de Fortaleza lançou uma campanha publicitária no último mês. A polêmica instalou-se. Tablet substitui livros? Na prática, sim. É possível ler os mais diversos livros num aparelho de pouco mais de 20x15cm. Aliás, ler é muito pouco diante das possibilidades com um tablet. Pode-se ler, interagir com os colegas, compartilhar ideias, acessar a internet, etc. Mas esbanjar que “Tablet substitui livros” em letras garrafais em outdoors pela cidade, sem dúvida alguma, foi um grande equívoco.
Apesar de sabermos que o colégio não irá se desfazer do seu acervo e que este vai continuar disponível para pesquisas e locações, a campanha acaba refletindo o quanto o ensino virou um mercado. As escolas que não possuem tablets já estão correndo para não ficar atrás. Mas será que as instituições de ensino realmente estão interessadas em agregar valor aos seus alunos ao implementarem os tablets no método de ensino ou será essa mais uma forma de suprir a educação de plástico ostentada por uma determinada elite em Fortaleza?
Apesar da potencialização da ludicidade para o estudo, as novas tecnologias reduzem a sociabilidade pessoal para enaltecer a virtual, além disso, com um tablet é possível ter acesso a várias plataformas digitais simultaneamente. Há então uma superabundância de informações que dispersam a atenção do seu usuário. De certo, essas mídias não substituem o livro, até porque que os dispositivos mobile, virtuais, conectados com a internet não permitem a concentração por longo tempo numa única coisa.
Com um tablet nas mãos, qual aluno vai ficar duas ou três horas lendo Dom Casmurro ou O Guarani na biblioteca? Por isso é preciso pensar no uso dessas novas ferramentas de maneira estratégica para que não criemos craques em tecnologia em detrimento de alunos sensíveis, cidadãos, humanos, sociáveis, éticos. Valores que também devem ser responsabilidade da escola proporcionar.
Depois das gerações X e Y, chegamos em 2011 à geração T, que, segundo as mais novas pesquisas, são os jovens que cada vez mais estão vivendo a tecnologia da informação como extensões do próprio corpo, e, consequentemente, perdendo o senso crítico e analítico, tendo sérias dificuldades na hora de emitir opiniões e aumentando seu potencial de mero replicador de informações.
Talvez um dos maiores poréns seja o fato de que muitos dos nossos alunos hoje estão saindo da escola aprendendo menos cidadania e sendo cada vez mais adestrados para o vestibular e o mercado. O tablet é um mundo de possibilidades, um ganho enorme para o sistema educacional fortalezense, mas é preciso ter cuidado, muito cuidado. Afirmar que ele substitui um livro é compactuar com um método de ensino cada vez mais encantador e descartável.